Rosa e azul e as palermices dos machos
Boris Johnson afirmou, em entrevista à televisão germânica ZDF, que a guerra na Ucrânia é “o exemplo perfeito da masculinidade tóxica” e disse acreditar que, “se Putin fosse uma mulher, não teria invadido a Ucrânia”.
Mesmo que me peçam muito, e sei que sim, não vou classificar o personagem Putin. E isso, agora, é uma certeza.
Na verdade, não é esse o objetivo deste texto. Esta noticia serve de mote para comentar as nossas ideias pré-concebidas acerca dos homens e das mulheres. Sim, porque não somos iguais e não temos um “molde” onde achamos que uns e outras foram cozidos como o bolo que servimos no chá das 5.
Esta semana, uma cliente disse-me que fazia questão de dar ao filho, de 2 anos, um trem de cozinha para ele se começar a interessar pelas tarefas domésticas. Falámos bastante sobre o tema e sobre a forma como ela orienta a educação dos filhos para não criar limites de género.
Foi verdadeiramente extraordinária esta consulta. Uma mulher portuguesa, empresária na Suíça, a falar da sua experiência no mundo dos negócios além-fronteiras.
Começámos este programa de transformação, online, há quase um ano. E lembro-me que a primeira coisa que trabalhámos foi exatamente as diferenças entre os homens e as mulheres. E as crenças de que as mulheres têm de assumir uma postura “masculina” para vingar no mundo empresarial.
Terão, os homens, um perfil pré desenhado?
Pois até parece que os homens têm um perfil pré desenhado e têm de o assumir caso contrário são vistos como “meninas”, fracos, sem pulso e um sem número de barbaridades que se dizem por aí…
As mulheres, essas, têm já predefinido um papel de quietude, contenção, de beleza e delicadeza… a chave do mundo do amor e da espiritualidade.
Então crescemos a observar um mundo da dualidade, e aprendemos a perceber o nosso papel nesse mundo patético onde as expectativas guiam as opções de comportamentos dos homens e das mulheres.
Imagina que tu és mulher, tens de vestir cor de rosa. E o teu irmão é homem tem de vestir o azul. E o azul tem de ser agressivo, falar alto, desenrascado, poderoso, com fome de vitória, o líder da cantareira, o destemido, aquele que tem de impressionar as cores de rosa e conquistar o lugar de líder da matilha.
O que se espera do cor de rosa?
Da cor de rosa é esperado que se impressione com os músculos e a bravura dos azuis. Que seja a fada do lar, o ninho do amor, que afague os cabelos suados do azul depois da batalha para decidir quem ganha na batalha dos tomates.
Voltando à nossa noticia… na verdade acho mesmo que o cor de rosa não atacaria a Ucrania. E também acho que o azul não o faria. Em todos as espécies animais, incluindo a humana, existem sujeitos com comportamentos patológicos independentemente de elementos masculinos ou femininos. Pronto, já disse…
Apercebo-me, quase todos os dias em consultório, que estes papeis reservados aos humanos, rosa e azul, são um peso demasiado grande para os homens e para as mulheres. Provocam frustração, ansiedade e um sofrimento que, na verdade, não fazem sentido.
Comportamento adequado ou desadequado
Voltando à minha cliente empresária, faz sentido falar em comportamento adequado ou desadequado, funcional ou disfuncional, adaptado ou desadaptado, eficaz ou ineficaz, mas não em comportamento masculino ou feminino como estilo de gestão.
Somos, homens e mulheres, diferentes, claro que sim! Temos várias estratégias para resolver a mesma coisa, é uma verdade. E talvez tenha chegado a hora de retirarmos aos homens o peso da agressividade, da luta, da necessidade de conquista e de os presentearmos com a liberdade de escolha em cada momento.
E as mulheres, talvez tenha chegado o momento de olhar para elas como seres dotados de liberdade para decidir em termos de comportamento não binário, de masculinização ou feminização de estratégias comportamentais. Deixar o universo das expectativas rosa e navegar no universo infinito de possibilidades.
E tu? Já percebeste que o universo é negro e podes colori-lo com todas cores do arco-íris?
Conta-me quais são as tuas cores.
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