Tu pertences a ti ou ao Benfica

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A sondagem revela que o Benfica reúne as preferências de 46% dos inquiridos, com 18 ou mais anos. …

Contas feitas, os três grandes representam 94,5% das preferências dos portugueses.

Todos nós queremos pertencer a algo, um grupo, uma opinião, uma filosofia, um partido, uma equipa, uma religião…. (Já parece a canção dos Delfins). Como se, pertencendo a um grupo, ganhássemos poder através dele. Uma vitória faz-nos pular de alegria, gritar de euforia, sentir a sensação de sermos capazes de atingir um objetivo, de sermos vencedores, apesar de estarmos no sofá e ninguém saber da nossa existência. Apesar de nunca termos entrado em campo, apesar de nunca termos chutamos a bola, aquele golo é nosso. Sentimo-nos vencedores. Mudamos a postura, olhamos de cima da burra como que a dizer ao outro “totó, eu ganhei e tu? vá diz…!”

Há anos atrás acompanhei um homem recém-divorciado, empresário de sucesso que via, apenas como vitória, os jogos em que o Benfica ganhava. Tudo o resto atribuía à sorte, ao facto de haver concorrência desqualificada, à facilidade do processo e a um sem fim de outras justificações que justificavam apenas o seu “síndroma do impostor”. Mas relaxa… conseguimos resolver a situação! E voltou a casar, já agora…

Mas o Benfica, ah… esse glorioso, é que lhe permitia sentir-se vencedor. E, por vezes, vencido, desanimado, injustiçado… de cabeça baixa sentindo na pele a humilhação da derrota. E se precisava sentir-se humilhado? Não, mas na altura era assim que se sentia.

Que necessidade esta dos humanos, sentirem poder através dos outros, de se apropriarem das vitórias dos outros, dos esforços dos outros, das estratégias dos outros e permanecerem nas suas vidinhas sem graça, tantas vezes, afirmando-se vitoriosos com uma bola que entra num espaço pequeno delimitado por três barras de metal. Na verdade também pode ser de outro material qualquer!

Se tal feito nos influenciasse a transformar a nossa vida, a adotar a disciplina, o treino, a estratégia seria fantástico, mas, provavelmente, continuamos com a cultura do queixume e da má sorte no resto do tempo… festejar um golo, uma assistência, um passe de meio campo, uma vitória torna-se o acontecimento brilhante que trás luz à penumbra da vida que segue vagarosamente o ritmo dos dias um após o outro.

E que dizer dos três grandes clubes representarem 94,5% das preferências dos portugueses? São os que ganham, por norma… que piada há em ser “clube da terra cinzenta” ou da “coletividade maria jacinto”? alguém fala sobre eles? São, como se diz agora, “influencers”? não…. Obviamente. Algum miúdo pede, no cabeleireiro da moda, um corte à Zé Pimpão, avançado do Maria Jacinto? Claro que não…

Mas se poderíamos ser todos do Benfica? Do Sporting ou do Porto? Claro que não! Com quem irias discutir o preço do árbitro (que fruta foi servida, por exemplo?) ou a incompetência do treinador ou o penalti que não foi assinalado? Com quem ficarias zangada e com quem passarias a vias de facto quando o outro acha uma expulsão bem feita quando tu sabes que foi apenas fita do outro jogador?

Repara,

“Mais do que a um patrão
Que a uma rotina ou profissão
Mais do que a um partido
Que a uma equipa ou religião

Tu pertences a ti
Não és de ninguém”

Assim reza a letra do “nasce selvagem” dos Delfins. E nós podemos entrar na balada e perceber que pertencemos a nós, não somos de ninguém. Temos em nós o poder da vitória, a estratégia certa para ganhar, os recursos ilimitados que nos levam a ganhar o campeonato da vida, que jogamos connosco próprios e nos superamos a nós mesmos. Que vencemos muitas jogadas, que perdemos outras tantas e que todas elas fazem parte do nosso percurso, do campeonato da vida.

E tu, qual é o teu jogo? Quais são as tuas vitórias e as tuas derrotas? Precisas de festejar as vitórias do grupo ou festejas as tuas? Conta-nos tudo. Podes partilhar, comentar e dizer o que te vai na alma.

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