O luto é o preço que pagamos pelo amor

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A primeira página do jornal The Daily Telegraph destaca uma frase proferida pela monarca após o ataque do 11 de setembro. Na altura, há mais de 20 anos, Isabel II dizia: “Luto é o preço que pagamos pelo amor”.

Não amar para não sofrer é escolher não viver. Digo eu. E sei, tal como tu, que a vida é feita de dualidades. O sol e a lua. O dia e a noite. O calor e o frio. A existência e a ausência. E existem as outras todas que perfazem a totalidade. Como um grande movimento que inicia e fecha o ciclo. No oriente fala-se do yin e do yang e dos 5 movimentos. E 5 movimentos e não 5 elementos porque a vida é dinâmica e nada é estático. Nem sempre é dia e nem sempre é noite, tal como a vida e a morte.

Sabemos que a seguir ao inverno vem a primavera. Isso não é um problema porque conhecemos o ciclo. Tal como conhecemos o ciclo do dia e da noite e ficamos descansados porque sabemos que iremos despertar depois do sono. Mas e a morte?

A seguir à vida vem a morte. E isso nós não conhecemos. Não conhecemos o que está do outro lado tal como conhecemos o que está do outro lado da noite. É um abismo desconhecido que tentamos de mil maneiras conhecer. As especulações são mais do que muitas. As certezas absolutas são talvez mais. E depois existem os outros que dizem não pensar nisso e, por isso, não têm ideias sobre o assunto.

Há alguns anos atrás o meu filho mais novo perguntava-me se morrer doía. Disse-lhe que não. Hoje continuo a ter a mesma convicção apesar de nunca ter morrido. E na sequencia da pergunta, vem outra. Porque, na verdade, a uma pergunta de uma criança outra se lhe sucede. “então, se morrer não dói, porque é que as pessoas têm medo de morrer?” respondi, desta vez sem convicção, que seria por não saberem o que acontece depois de morrerem.

Ter medo de morrer é só uma parte da coisa. A outra, a parte talvez mais difícil é lidar com a morte dos outros. Mas mesmo aqui a situação também não é simples. Quem são os outros que, morrendo, nos lançam para um sofrimento atroz? Quem são esses que, morrendo, abrem vulcões de lava que nos queimam a vida?

Não são todos, certamente. Todos os dias pessoas morrem. São números, e os números não têm conexão connosco.

Mas quando há uma conexão então temos a dor e o sofrimento. E para lidar com a dor e o sofrimento temos uma fase muito especial das nossas vidas que é, também um processo, um ciclo, e chama-se luto.

Então, o luto é o preço que pagamos pelo amor. Porque quando nos conectamos criamos ligações. E, por vezes, criamos uma ligação muito especial -o amor- e quando o amor faz parte da equação, então o luto é um desafio enorme.

A raça humana nasceu com a capacidade de sobreviver à morte dos outros. E nesta capacidade está, de facto, o luto. A fase de dar significado e propósito, a fase de sermos criativas e amorosas connosco próprias. A fase em que nos permitimos sofrer, porque amamos, e a que nos permitimos viver, porque amamos.

O luto é a fase que nos permite reinventar depois da tormenta. Construir novas conexões e, quem sabe, voltar a reinventar. Sabendo que podemos, igualmente, ser o motivo do luto dos outros… porque somos amadas. E é um ciclo…

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